Tráfico de drogas e guerra de facções: a Amazônia é o novo Rio
Moradores com pavor de sair às ruas à noite. Bares e restaurantes que
fecham as portas cada vez mais cedo. Territórios dominados pelo crime
organizado. Isso lembra um certo estado sob intervenção federal?
Infelizmente, esse cenário desolador está longe de ser uma exclusividade
do Rio de Janeiro. O Amazonas é hoje o exemplo mais bem-acabado do
processo de carioquização por que passam estados brasileiros que
entraram na rota do tráfico internacional de drogas — além do Amazonas,
Acre, Rondônia e Ceará.
Em Manaus, o conjunto habitacional Viver
Melhor é a síntese de como a tragédia do Rio se replica no país. Erguido
há seis anos por meio do programa Minha Casa Minha Vida, o residencial
praticamente já se funde com uma favela que brotou ao lado. Somados os
números de moradores dos apartamentos e dos barracos quase contíguos,
são 70 000 as almas que habitam o local, a maioria egressa de áreas de
risco ou de invasões nas bordas de rios e igarapés da região. Da mesma
forma que o bairro Cidade de Deus — que nasceu no Rio como alternativa
de reassentamento para famílias retiradas dos morros cariocas —, o
residencial do Amazonas converteu-se em um terreno fértil para o
tráfico. A facção criminosa Família do Norte (FDN) assumiu o controle do
local. Trata-se, literalmente, de crime organizado: cada um dos blocos
com quatro prédios de quatro andares está hoje entregue ao comando de um
gerente do tráfico.
Já no Acre e em Rondônia, que fazem fronteira
com a Bolívia, é o Primeiro Comando da Capital (PCC) que dá as cartas.
Vendedor exclusivo da droga boliviana no Brasil, o PCC controla a faixa
de fronteira que se estende para o sul, até o Paraguai. Em Porto Velho, a
organização conquistou o mais emblemático dos conjuntos habitacionais
da cidade. O Orgulho do Madeira, como é chamado o residencial erguido
com financiamento do governo federal, reúne 7 000 moradores e é um
antigo conhecido do sistema de execução penal de Rondônia. Nas telas de
monitoramento de presos com tornozeleira eletrônica, o Orgulho do
Madeira aparece como uma mancha em destaque. “Ali moram quase todos os
bandidos rastreados pelo aparelho”, conta o secretário de segurança,
Lioberto Caetano de Souza.
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